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Itaú demite mil funcionários por 'baixa produtividade' - mas parece que quem não estava produzindo era a liderança

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A empresa alega quebra da cultura da confiança enquanto monitora tempo de atividade no Teams, cliques, alternância entre abas abertas e memória em uso (premiando a multitarefa??).


O Home Office ainda é uma dor de cabeça para líderes desatualizados, e grandes corporações podem se arrepender em breve de não prestar atenção nas tendências do futuro do trabalho. 


Segundo matérias divulgadas sobre a demissão de mais de mil funcionários por “falta de produtividade” no Itaú, nenhum dos demitidos teve feedback ou qualquer acordo de ajuste de conduta antes do desligamento, tampouco sabiam que essas seriam as métricas usadas para sua avaliação de desempenho.



Esse circo todo escancara uma realidade: mesmo em grandes empresas os líderes não estão preparados para medir o que importa (até porque o que segura a maioria deles no cargo é o PPT bonito do final do trimestre, mesmo que os números na tela não significam nada do que queiram convencer)



O perigo do presenteísmo (físico e digital)


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Muito mais perigoso para as organizações que o absenteísmo (faltas no trabalho), é o que atualmente chamamos de presenteísmo, que é quando um trabalhador está fisicamente/virtualmente presente no trabalho, mas não consegue realizar suas funções plenamente devido a problemas de saúde física ou mental, fadiga ou outras questões pessoais, resultando em baixa produtividade e qualidade.


E esse fenômeno virou epidemia corporativa porque parecer ocupado sempre foi a forma mais eficiente de convencer seu chefe de que você é produtivo e comprometido.


É por isso que tantos gestores detestam o Home Office. Para eles, ver o cidadão batucando o teclado, mesmo que esteja na realidade tramando um “Golpe de Estado” contra a sua própria liderança no “grupo sem chefes” traz mais sensação de controle e segurança do que não saber se ele está trabalhando.


Tenho começado a pensar que os líderes têm desenvolvido cada vez mais “preguiça” em liderar de verdade, e tentam jogar para tecnologias, planilhas, BIs - sem qualquer inteligência humana na sua concepção -, as decisões que deveria tomar.


Toda essa história fortalece a narrativa sustentada por lideranças tóxicas e empresas abusivas de que o Home Office é coisa de preguiçoso. 



Home Office é mais produtivo e lucrativo - a ciência vem comprovando há anos


Aqui vou te mostrar alguns poucos dados que extraí da imensidão de estudos que são publicados diariamente sobre o tema, apenas para reforçar o que estou te contando.


A Harvard Business Review publicou em Outubro de 2024 um experimento realizado na empresa Trip.com (uma das maiores empresas de viagens online do mundo, com 40 mil funcionários) que vai fazer muito chefe engolir em seco. 


A corporação realizou por 6 meses um teste A/B (quando você compara cenários quase iguais, mudando apenas uma variável para verificar o impacto dela nos resultados) comparando grupos de trabalho equivalentes com a única diferença sendo o regime de trabalho, sendo um grupo híbrido, outro presencial, e veja o que aconteceu:


Antes do experimento, os gerentes estimaram que o híbrido reduziria a produtividade em 2,6%. Após o experimento de seis meses, eles estimaram que a produtividade aumentou em 1%.


Aqueles que trabalham sob o modelo híbrido tiveram uma maior taxa de satisfação e 35% menor rotatividade. As reduções da taxa de demissão foram maiores para funcionárias. Não gerentes e aqueles com deslocamentos longos superiores a 1,5 horas também reduziram significativamente as taxas de demissão sob o híbrido.


(Artigo “Uma empresa realizou testes A/B de trabalho híbrido. Veja o que eles descobriram.” Harvard Business Review, Out. 2024)



A FGV também acompanha essa tendência há muitos anos, e em 2024 trouxe este resultado sobre a evolução da percepção do mercado sobre a produtividade após a implementação do Home Office:



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E o relatório Pulse of the Profession® 2024 do PMI Global traz o estudo da Scoop em parceria com o BCG analisou mais de 7.000 empresas nos EUA e mostrou que as empresas com modelos de trabalho totalmente flexíveis tiveram crescimento de receita 21% em três anos, contra 5% das que exigiam tempo presencial.



Lideranças tóxicas exigem presenteísmo, preferencialmente com presença física


A Forbes trouxe em março de 2025 uma lista, no mínimo, engraçada, dos motivos reais  (expostos pelos próprios empresários/chefes) pelos quais empresas têm retomado o modelo presencial, cuja conclusão o próprio autor da matéria resumiu como: “A maioria das decisões não estão ligadas ao bem-estar e à produtividade dos funcionários, ignorando boa parte dos dados”


Destaco aqui as justificativas mais bizarras:


Acreditam em uma melhor absorção da cultura organizacional

Eu concordo, mas só quando a cultura é de opressão, desconfiança, toxicidade e assédio. Se a cultura for saudável, o ambiente não impactará em nada para estremece-la.


Não conseguem monitorar produtividade

Eu avisei!! Só não imaginei que eles fossem admitir isso em entrevista para pesquisadores :S 






Precisam justificar o custo de um escritório

Sabe aquele papo que parecia teoria da conspiração de que havia forte interferência do mercado imobiliário nas decisões do retorno ao presencial? Pois é… 


Agora, me diz: como você avaliaria um gestor que prefere manter um custo para “justificá-lo” em vez de eliminá-lo? 👀


Querem reforçar a estrutura hierárquica tradicional

Taí outra coisa que eu achei que nenhum líder teria coragem de falar em voz alta em 2025.


MAS CALMA, QUE PIORA:


Desejam motivar demissão voluntária


Achei super estratégico. Moer as pessoas para que as pessoas peçam pra sair e eu não precise gastar com multas rescisórias. Com certeza só os que não tem mais qualquer empregabilidade é que vão pedir pra sair, né?


Querem reter apenas pessoas leais

Tradução: pessoas sem senso crítico, ético e moral, que farão tudo que você mandar sem questionar. 



Sabe porque o Modelo Remoto fracassa?

Depois de revirar 70 terabytes de pesquisas (não me contive!) e avaliando minha experiência na mentoria de líderes, listei aqui os maiores erros que as lideranças cometem na gestão remota:


  1. Comunicação ruim - problema de gestão, não de local

  2. Foco em horas, não em metas - confundir presença com resultado

  3. Falta de acompanhamento - ausência de cadências de feedback

  4. Desconfiança - como medir cliques em vez de entregas

  5. Microgerenciamento - controlar processo em vez de resultado

  6. Pouca estrutura - falta de acordos e ferramentas


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  7. Isolamento por gestão híbrida mal feita - centralização dos papos no presencial

  8. Confusão de limites - invadir o horário de descanso dos funcionários



Bons líderes também querem mudar para o remoto

Pesquisa da Gartner em 2024 mostrou que 36% dos executivos seniores deixaram empregos por causa da exigência de retorno ao presencial, e um terço desistiu de processos seletivos ao saber da obrigatoriedade de presença física.


Aquele papo de que “técnico pode ficar em Home Office, gerente, não” é a mais pura sandice do mundo corporativo, passa o recado de que “se você quiser crescer aqui precisa estar aqui fisicamente” e carimba o rótulo de ineficiente no seu próprio modelo de gestão.



Os impactos negativos na sociedade afetam também quem trabalha em casa


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Já em 2023 o trânsito em São Paulo apresentava o mesmo patamar que pré-pandemia, e desde então só piora. Isso significa maior estresse para a população que realmente precisa estar nas ruas, mais poluição, mais acidentes, mais dificuldades para a movimentação de ambulâncias e viaturas, e muitas menos horas de vida no mês do trabalhador. 


Esperamos que o funcionário leia mais, estude mais, mantenha sua saúde mental em dia, enquanto exigimos que ele passe 3 horas por dia em pé no transporte público em vez de ler um livro, fazer uma caminhada, assistir uma série ou cozinhar o próprio almoço.




E por aí?

Você já trabalhou numa empresa que confunde presença com resultado? Já teve chefe que preferia te ver ocupado do que realmente produtivo?


Conta aí nos comentários: qual foi a pior métrica que já usaram para te avaliar? E se você é líder, seja honesto - como você realmente mede a produtividade do seu time?


Compartilha esse texto com aquele gestor que ainda acredita que trabalho bom é trabalho sofrido. Quem sabe é hora de uma conversa franca sobre o que realmente importa.





REFERÊNCIAS:











4 comentários

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Fil
13 de set.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Trabalho remoto tem que virar política pública o quanto antes....

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Luísa Marina
13 de set.
Respondendo a

Sim, Fil!!! Pela sociedade como um todo e pela sustentabilidade das empresas!

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Convidado:
12 de set.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

chefes x líderes! facil perceber a diferença

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Luísa Marina
13 de set.
Respondendo a

hehehe... quem tem olhos e ouvidos, sabe rs

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